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[sem título]

Se um dia tu leres estas palavras,

Saibas em teu coração sua sinceridade:

Semelhante a teu semblante

Sussurra-me tuas dores...

São José dos Campos, 22 de fevereiro de 2017.

Fugacidade

Cereja —

Lindas pernas compridas e delineadas

Adornadas com um enfeitiçante bumbum!

Copo perfeito de milkshake

Pontuado no topo com uma.

São José dos Campos, 26 de janeiro de 2017.

Esta é uma estória mirabolante e perturbadora que aconteceu comigo na madrugada do dia três de dezembro de 2016. Tudo começou quando entrei em meu quarto, deitei-me na cama e comecei a ler "O eu e o inconsciente". Após algumas páginas, quando as letras começaram a ficar fora de foco, coloquei o livro no criado-mudo e desliguei o abajur.

Eu era uma criança, tal qual fui em minha infância. Havia chegado a um local, creio que de ônibus, junto de outras tantas pessoas. Fiquei com a impressão de que éramos todos crianças. O local talvez pudesse ser descrito como o hotel do filme "O Iluminado", com Jack Nicholson. De qualquer maneira, era uma casa enorme e me passava a sensação de isolamento. Enquanto entrava nessa casa e explorava-a, caminhando pelos corredores e cômodos, pensei se ali não era um Hospital de Almas.

De repente, num cômodo que parecia ser uma cozinha ou uma sala de esterilização dos antigos hospitais (todas as paredes eram cobertas por azulejos claros até o teto e o pé direito era relativamente alto), vi um quadro. A sala não era retangular ou quarada, mas cheia de paredes que formavam uma espécie de vilosidade. Como se quisessem aumentar a quantidade de paredes para haver mais espaço para pendurar quadros. Era como se fosse uma galeria de exposição de quadros. Enfim, vi meu quadro e então dei-me conta de que aquele local era a casa da minha tia-avó Ilza. Julguei-a uma alma benevolente e caridosa de altruísmo sem limites, com certeza um espírito evoluído e presto para ajudar os outros. E fiquei feliz de finalmente ter ido à sua casa, pois era uma visita que eu já devia há um tempo. E também finalmente pegaria o quadro que ela mandou fazer para mim e que, como eu bem podia ver, já estava pronto. Poderia levar o quadro comigo, pois eu estava de carro ou acompanhado por minha mãe e seu carro.

O quadro merece um parágrafo único. Ele estava pendurado numa dessas paredes cheias de azulejo claro. Era grande, talvez algo como um metro por sessenta centímetros, em orientação modo retrato. Era a figura de um navio, a princípio de madeira. Lembro que o navio navegava por águas um tanto turbulentas, mas havia uma cidade ao fundo. O dia no quadra estava claro, com um sol amarelo iluminando tudo. Penso que o navio tinha um mastro principal, mas não havia vela. O que mais me chamou a atenção foi a presença da metade inferior de um timão presente na moldura superior do quadro. Ela era feito de madeira ou de cerâmica, não era pintado como o quadro. E sua cor era de um vermelho tão vívido e intenso que me deixou completamente admirado! Talvez ele fosse de cerâmica com esse esmalte vermelho, pois ele era brilhante. Quando observei mais atentamente o navio, percebi que seu nome estava encoberto pelas ondas. De súbito, tive a sensação de estar no navio. Mas, então, ele era de metal, como se fosse um navio de guerra do tipo stealth, com o casco pintado em cinza e seu nome em letras pretas. E o dia estava nublado com o mar agitado e as ondas continuavam quebrando no casco e ocultado seu nome. Uma parte apenas era legível e fez-me crer ser algo parecido com meu sobrenome polonês "Woiski". Durante toda minha estada nesse cômodo, estive sempre com a tia Ilza na mente.

Eventualmente, penso que ela tenha me chamado ou que eu tenha visto seu vulto no final de um corredor. Em um outro cômodo, vi minha mãe. Era o quarto dela. Ela estava deitada em sua cama com o notebook aberto. Não me lembro o que aconteceu, vou tentar relembrar escutando o áudio que gravei sobre essa vivência. Lembro vagamente também sobre ter ido para o quintal da casa; acho que lá havia uma pequena vila e eu fui comer num restaurante. Ou interagi com pessoas numa venda.

Os pêlos do meu corpo se arrepiam ao lembrar do que aconteceu daqui em diante. Foi uma experiência absolutamente intensa e, de algum modo, transformadora, arrebatadora. Eu, que desde o encontro com o quadro já era o eu que sou no presente, um quase adulto ou quase não mais adolescente (coloco essa indefinição porque as outras pessoas que participaram da atividade que descrevo me trouxeram a sensação de estudantes, no começo de seus vinte anos), e mais algumas pessoas também fomos convocados para uma espécie de aula. A sala de aula poderia ser dividida em duas partes: a primeira, por onde entramos, era como uma sala com armários para deixarmos nossos pertences; adiante, havia um rebaixo de cerca de meio metro no chão, formando um salão. A primeira parte poderia ser uma ante-sala, mais estreita que o salão. Sua planta-baixa me lembra a cantina que havia na escola Luiz Gonzaga de Moura, onde estudei o ensino fundamental em Campinas. Todo o local era feito com madeira, com armários em madeira. E era antigo. Entramos, tal qual como se fôssemos estudantes de magia na escola Hogwarts, do Harry Potter. Com certeza eu encontraria em alguma cena dos filmes algo que tivesse a aparência semelhante à ante-sala. Penso que deixei alguma coisa num armário e dirigi-me para o salão.

Havia o professor e as outras pessoas, que já estavam no salão. Essa parte possuía um chão negro e extremamente polido. A intenção toda era que escorregássemos. Talvez ussássemos meias para escorregar mais facilidade. O salão era amplo e nele havia alguns vasos de plantas, maiores ou menores. Todos nós deitamos no chão e foi como se tivéssemos nos transformados em seres bidimensionais: não podíamos nos levantar e só nos locomovíamos arrastando-nos pelo chão, como minhocas. Talvez isso fosse uma brincadeira extremamente lúdica para uma criança. Para mim, foi uma experiência impressionante. A proposta toda era ficarmos imersos num ambiente sem atrito algum! Então como conseguíriamos nos locomover? Mas conseguíamos. A princípio, corremos (sempre como minhocas presas à bidimensionalidade) em círculos pelo salão. Achei fabulosa a experiência de estar num sistema conservativo e vivenciar como a dinâmica muda; era como estar no espaço! Num dado momento, fiquei afastado do grupo e comecei a empurrar os vasos contra eles, por diversão ou para dificultar um pouco a vida deles. Eles não gostaram muito e reclamaram para o professor. No entanto, quando olharam para mim, e eu também olhava para mim como se estivesse agora em terceira pessoa, eu me contorcia todo em espamos que fazia saltar do chão e meu corpo todo se ondulava. Era como se eu estivesse recebendo um espírito. A luz era fraca e azulada e havia muito pó de giz por todo o ambiente. O salão, além de polido, tinha muito pó de giz como se para diminuir mais ainda o atrito. Uma janela próxima a mim coava a luz pálida em forma de feixes por causa do pó. E eu me contorcia. Penso que o professor disse que não havia mais jeito, dando a entender que fosse o que estivesse acontecendo, foi desencadeado e agora era irrefreável.

De repente, o salão estava vazio de pessoas. Eu estava só. O salão ficou menor e com objetos antigos, empoeirados. Como se fosse um sótão. Orientando-me como se entrasse pela ante-sala, eu estava no lado direito do salão. Subi no chão de madeira (seria como uma outra sala que existia nesse lado do salão). A parede no fundo dessa curta sala era de madeira e havia alguns furos por onde eu via pontos de luz. O ambiente todo continuava azulado. Era como se fosse um depósito de um teatro, com os restos dos cenários, figurinos etc. A sensação que eu tinha nesse lugar era de eu ser um arqueólogo descobrindo um tumba importante numa caverna; desbravando a escuridão e o desconhecido rumo à revelações de segredos antiquíssimos, seculares. E enquanto eu explorava o local, do extremo oposto, eu (algum outro eu) estava de posse de um canhão super moderno, mas de aspecto cartunesco. Eu fazia mira e penso que estava também dentro do canhão, como se eu fosse um desses palhaços que são atirados do canhão (e o canhão tinha esse aspecto de brinquedo). De qualquer forma, eu fazia mira e minha mira eram os pontos de luz que eu vira na parede daquela sala. Esses pontos de luz eram quentes. Subitamente, eu feixe enorme de luz invadiu a sala, como se tivesse sido disparado do canhão. Eu me virei de costas para a parede e comecei a gritar muito alto!

O feixe de luz era muito quente, muito aconchegante por seu calor, mas mais quente do que deveria. Era insuportável! Da parede, descolavam pedaços por causa do calor; esses pedaços eram giz de lousa que saltavam da parede, brilhantes, desfazendo-a. Eu virei de costas para a parede e abri os braços, como se em redenção. O feixe de luz me queimou, pulverizando-me aos poucos e por partes. Eu gritava e sentia aquele calor todo!

Tudo cessou. Silêncio. A luz parecia a de um dia nublado... estava cinza. Do meio do salão, daquele chão preto e liso, imerso em pó de giz, eu me levantei. Eu era um homem careca (ou de cabelo raspado), vestido como Voldemort, e minha cabeça e pescoço estavam completamente brancos, como se pintados com aquela maquiagem pálida de palhaços. Eu poderia me assemelhar ao Voldmort, mas com nariz e sem maldade; ou talvez à morte que aparece num filme sobre dois amigos que têm uma cabine telefônica que viaja no tempo (filme estrelado pelo ator principal de Matrix). Eu me levantei daquele pó e além da pele branca, eu possuía inúmeros piercings. Alargadores nas orelhas e no pescoço. Comecei a tirar pedaços de giz de lousa dos alargadores, do pescoço, dos ouvidos e das narinas. Nesse instante, senti-me como um cadáver que ressuscitasse e tirasse o algodão de suas narinas. No meu caso, eram gizes.

O tempo havia acabado. Era hora de ir embora e todos da caravana me chamavam e me esperavam. Peguei meu rumo para a entrada da casa, mas eu estava no quintal dela. E havia nevado. O caminho para voltar à casa era uma espécie de pista de corrida, à semelhança dessas de corrida de trenó nas Olímpiadas ou Jogos de Inverno. Eu era uma criança novamente, toda encapotada, correndo por essa pista que fora aberta na neve e era quase da minha altura. Ao chegar na casa, desci uma escadaria enorme que daria para a porta da frente. Eu estava acompanhado de minha mãe, talvez de mãos dadas. Ela estava ao meu lado esquerdo e o corrimão, dourado, a meu lado direito. A escada era curvada, à moda dessas de casas de ricos. O ambiente tinha uma luz interna muito brilhante, como de shoppings centers. A escada tinha um platô em sua metade. Quando eu estava nesse platô, consegui ver o pé da escada. E ao seu lado direito, havia um cordão de contenção como esses que separam a casa do Papai Noel em shoppings. Dentro do ambiente criado pela corda de contenção havia dois caixões semiabertos. Mais próximo à escada, estava minha avó no caixão e sua tampa parecia apenas deslizada para os seus pés, de modo bastante ordenado e paralelo ao eixo longitudinal do caixão. Ao lado de seu caixão, estava o meu avô no outro caixão, com a tampa inclinada, dando um ar mais desordeiro. De algum modo, do caixão do meu avô me atingiram as seguintes palavras, quase gritadas em desespero: ME DEIXE ENTRAR!

Foi quando acordei às quatro e meia da madrugada e passei trinta minutos gravando um áudio para registrar a experiência que tive. Naqueles instantes após acordar a sensação era quase de terror. Tenho certeza de que senti o calor daquelas luzes quando fui desintegrado. Eu nunca tivera uma experiência sinestésica num sonho. Fiquei absolutamente impressionado! Estou desvendando os símbolos desse sonho e alguns me soam bem claros...

São José dos Campos, 03 de dezembro de 2016.

De volta mais uma vez

Renasci para o paradoxo

E o passado é um eu enterrado!

O caminho que não foi

É um ponte desmoronada,

Um desvio que não pude seguir.

E mais uma vez sigo meus pés

Vazio como em todo recomeço.

Eu ainda tenho a mim

E um dia aprenderei que

Isso basta?

São José dos Campos, 30 de agosto de 2016.

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